Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

sábado, 27 de setembro de 2008

Um poste no caminho

Hoje à tarde, Rita, uma de minhas vendedoras e santa de plantão, veio até mim queixando-se de muita dor de cabeça. Na hora, sugeri que tomasse um Tylenol, uma Neosaldina, 120 gotas de Novalgina, uma vodka, porque dor de cabeça enche o saco e eu não faço o menor esforço para suportá-la.

Ela me respondeu que não podia tomar tais medicamentos pois analgésicos normalmente baixam a pressão. Como a sua é muito baixa, ela costuma desmaiar sempre que consome pílulas desta natureza. A vodka, não tomaria pois é evangélica e sua religião não permite.

Me disse, inclusive, que havia tomado um Buscopan há dois dias e isso lhe causou um desmaio, por isso preferia a dor ao risco. E isso me fez lembrar da única vez em que desmaiei na vida. Não foi por reações à remédios, nem por susto, muito menos por mé, que não sou mulher de ser sensível a este tipo de composto.

Foi por imbecilidade completa, pura e verdadeira. Aliada à existência de uma porra de um poste no caminho. Dei a este acontecimento o auto-explicativo nome de "O Mico do Milênio. E do Próximo Também".

Eis o ocorrido:

Eu era uma jovem e contente assessora de imprensa naquela época anterior ao advento da internet. Logo, para enviar fotos, convites, produtos......TUDO, para as redações, era necessária a existência de motoboys. Para mandar fotolitos (há um caso famoso de um cliente da W/Brasil, que solicitou o fotolito por fax.....JURO), cromos, provas de material de divulgação para aprovação de clientes, havia também a necessidade da contratação de um motoboy. Ou seja, eu dependia quimicamente deles para executar o meu trabalho. Tanto que havia dois exemplares da espécie no quadro de funcionários da empresa.

Uma bela manhã, após duas horas organizando o roteiro do dia, consegui, finalmente, despachar o motoqueiro. Eram tantos os destinos que ele só retornaria no final da tarde. Vale lembrar que naquela época galera não tinha celular, portanto só haveria comunicação com o maluco quando E SE ele quisesse.

Minha sala localizava-se no sexto andar de um prédio na Rua Maria Antônia. Logo que ele saiu, vi que todos os envelopes destinados à redação do Estadão haviam ficado sobre uma das mesas.

Pânico.

Com a pilha gigantesca nas mãos, saí correndo, mas não consegui chegar a tempo de pegá-lo no elevador. Minha única opção eram as escadas. Desabalei escadaria abaixo em direção ao térreo, mas o motoca acabara de bater a porta. Que destravava internamente através de um botão que eu não conseguia apertar, devido à existência de 130 envelopes grandes em meu poder. Joguei tudo no chão, apertei  a bagaça, peguei tudo do chão e saí desembestada, Maria Antônia acima, berrando para o doido do motoqueiro que, com fones de ouvido, não me notava.

10 da manhã. Sol. Praça de alimentação do lado da calçada onde eu corria e gritava. Mac Fil apinhado de Mackenzianos vagais e bêbados do outro lado, bem em frente à praça. Quando a velocidade da minha corrida já atingia os 100 km/h, minha estagiária, sentada na praça de alimentação grita:

"Aê! É do cachorro ou da polícia??"

Sem interromper os 100 metros com barreiras, virei meu rosto em sua direção com o objetivo de mandá-la à puta que o pariu em vôo direto; mas não houve tempo para tanto.

Ao virar a fuça para a praça, perdi o foco dos obstáculos e dei com a cara no poste. Um poste daqueles de concreto. Caí dura, desmaida, e quando recobrei os sentidos vejo um tumulto sobre meu corpo desfalecido. Basicamente era o Mac Fil inteiro, mais o motoboy e a prostituta da estagiária.

Fora o traumatismo craniano que sofri, o lado esquerdo da minha cara sofreu todo tipo de escoriações. Foram dois cortes sobre a base ralada, alguns roxos, uns verdes e uns pretos também.

Claro que fiquei famosíssima entre os universitários e demais frequentadores da região. Virei um tipo de mito, lenda.

Creio que muito do meu comportamento atual seja resultado de sequelas.

3 comentários:

Carlota disse...

É como diz o velho deitado: ESTAGIÁRIO SÓ FAZ MERDA!!!!!

Red disse...

Ahn... faltou um detalhe na história: valeu a pena, ao menos? O filhodaputacornosemmãedocaralho do motoboy ao menos pegou a pilha de 147 envelopes e levou-os aos respectivos destinos? Ou tudo isso foi à toa?

Paulinas disse...

Foi tudo à toa. Toda a entrega foi transferida para o dia seguinte. Acho que todos ficaram com medo de presenciar meu falecimento naquela hora.