Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Diário de uma trintona feliz

Segunda-feira
É o dia da esperança. O dia em que tudo é possível. O dia de planejar uma vida produtiva, saudável, melhor. Após chegar se arrastando devido aos 149 chopps do Domingo à empresa onde detém alto cargo, a pessoa começa a mentalizar todos os objetivos que, sim, alcançará nesta semana, caracterizando a grande reviravolta nesta sua vida de merda.

A mala que abriga sua indumentária própria para a ida à academia habita o porta malas de seu carro. Sim, após o longo dia de trabalho seu objetivo é se exercitar. Para começar a semana bem e estabelecer um novo padrão de comportamento. A tal vida saudável, melhor.

Às 6 da tarde a nega está morta, destruída. Culpa da ressaca, os 149 chopps do dia anterior, o despertar do avesso. A idéia de subir em uma esteira e sair correndo como uma vaca possuída soa inconcebível.

Assim sendo este ser desiste da auto mutilação e deixa a porra da academia para a terça. Vai para casa, pede uma pizza Supreme, devora este poço de banha em domicílio e cai dura no sofá.

Terça-feira
Day Two. Arrasada pela inutilidade se sua segunda feira, a promessa é de que tudo será resolvido nas próximas 12 horas. Ela vai à academia e programa a esteira para 2 horas e meia, já que precisa compensar a pizza de ontem. Corre desgovernadamente e adquire bolhas e dores em ambos pés. Ótimo. Depois disso nada mais lhe resta senão aceitar o convite da horda que toma chopps em algum boteco de loucos, juntar-se ao grupo e sair de lá às 5 da manhã.

Quarta-feira
Sua cabeça transformou-se em um sino. Acorda duas horas após o planejado e sai desembestada em direção à f-i-r-m-a, calçando um sapato de cada cor e criando uma história minimamente plausível para seu atraso tosco. No trajeto também pensa em diversas formas de agredir os idiotas que soltarão comentários mongóis como: "boa tarde!" ou "chegou cedo para amanhã, hein?"

Após conseguir transpor todas as buchas enguiçadas em seu caminho (inclusive explicar o motivo de estar usando pés de sapatos diferentes) e atingir um nível de mau humor jamais registrado, a coitada não consegue nem se lembrar que a academia que pretende um dia frequentar existe. Eis que vibra o telefone e do outro lado da linha há outro ser humano em condições semelhantes. Após breve conversa ambos concluem que a única opção viável para aquela noite é encher a face de cerveja em algum botequim desqualificado. E sair de lá às 5 da manhã, claro. Afinal hoje já é quarta, a semana está quase no final, todo mundo já está estressado e a melhor forma de desanuviar a cabeça é encontrar com os amigos para jogar conversa fora. Né? É.

Quinta-Feira
A pobre infeliz já cumpre seu horário comercial no sistema da inércia. A única coisa que lhe dá forças é pensar que já é quinta feira, que é véspera de sexta, que é véspera de sábado e que sua vida está tecnicamente a um dia de melhorar exponencialmente. Outro ponto importante é que qunta-feira não é dia de academia, é contra todos os seus princípios e se tem uma coisa nessa vida que a gente tem que levar a sério são nossos princípios, portanto ela está oficialmente liberada.

A programação noturna é tradicional e inclui ingerir álcool no bar tradicional e de lá, dirigir-se à tradicional casa noturna exploradora das quintas-feiras. E sair de lá às 5 da manhã, claro.

Sexta-feira
Nada mais abala a sujeita. Seus planos envolvem driblar chatos e empurrar todas suas obrigações remuneradas para segunda-feira. A programação da noite já foi definida. Será uma pequena reunião na casa de um amigo. Nada agressivo, afinal estão todos cansados após uma semana inteira de trabalho...né? Claro que é.

Importante dizer que 245 mil pessoas comparecem ao local e que o evento já havia perdido a característica de pequena reunião antes mesmo de acontecer. Tolos aqueles que ainda acreditam nessa conversa.
Sendo assim, ela considera adequado o consumo de whisky e deixa o recinto com a cara cheia de exatamente uma garrafa da bebida. Às 6 da manhã, lógico.

Sábado
Ela acorda às 2 e meia da tarde e automaticamente uma música vem à sua mente: "se a sua cabeça parece um bate estaca, e sua boca tá com gosto de 'córrimão'" - na verdade um jingle de Eparema para o carnaval de 1813 - e tudo faz sentido.

Sua ressaca é assassina e a coitada encontra-se atropelada por uma manada de elefantes. Consegue sair da cama à 5 da tarde mas o trajeto é rápido: joga-se no primeiro sofá com TV em frente que encontra pelo caminho.

Após uma refeição visigoda, sente-se morta. Decide que não sairá nesta noite, apesar de todo mundo esperar alguma coisa de um sábado à noite, pois está muito cansada. Afinal de contas trabalhou pra caralho nesta semana. Né?

Domingo
Após uma almoço com duração de 4 horas no Rodeio, ou algo semelhante, sugere: "E aí, vamos fazer alguma coisa? Afinal ficamos em casa ontem, notem". Toma as mesmas 149 cervejas que ferraram sua última segunda-feira....e assim caminha a humanidade.

Beijos