A primeira providência que tomei, foi transferir o automóvel de garagem na empresa. Desde 1845, estaciono o carro na rampa que dá acesso ao subsolo do prédio onde funciona a fábrica. Entro de frente e saio de ré, em uma rampa bastante íngreme. Íngreme para cacete e cheio de pedestres desprovidos de noção, que insistem em se jogar atrás de um carro em marcha ré na ladeira, com o motorista totalmente sem visão traseira.
Pois bem. Achei que seria inadequado forçar desta maneira a já prejudicada frição e me mudei para o estacionamento em frente, o que já planejava há tempos, pois meu carro parado na porta da fábrica diminui o número de vagas disponíveis para clientes e fornecedores. No estacionamento em questão, entra-se descendo uma rampa, e a saída é pela rua paralela, sem nenhum tipo de desnível em relação ao asfalto. Perfeito. Havia boas chances para o carro.
Calculei que, tomando esta medida, a sobrevida do Astra prolongaria-se até o final do ano, quando, logo que ocorresse minha partida para a Bahia, ele entraria na oficina sem que eu sofresse transtornos de qualquer espécie.
Planejei tudo isso sem incluir o manobrista da merda do estacionamento nas possibilidades. Desde que comecei a estacionar o carro no estabelecimento onde este infeliz trabalha, há uma cena que tenho o prazer único de vizualizar diariamente. Diria que mais de três vezes ao dia. TODOS OS DIAS: Meu carro, subindo a ladeira que dá acesso ao estacionamento (mão única, importante dizer), de ré, a mais ou menos 60 km/h.
"Pra gente podermos marnobrar os outro veículo, Paula".
Foi a explicação que obtive quando chamei a atenção do baiano em relação ao fato de meu carro estar lá dentro justamente para NÃO ter que subir rampas de ré.
Pacientemente, após um breve período de concentração, clamando por sabedoria, para não arremessar um paralelepípedo contra o manobra, expliquei os motivos pelos quais eu passara a parar a porra do carro naquele estacionamento, e não na minha garagem particular.
Certa de que ele não havia prestado atenção a nenhuma mísera palavra proferida por mim naquele curto período, resignada, virei as costas e entreguei à Deus, como diz Eunice, empregada de minha residência.
Conclusão: Em exatos 30 dias, este baiano produziu o estrago que estava programado para ocorrer apenas no mês de dezembro. O automóvel entrou na oficina na terça-feira e lá permanece até hoje. Além de gastar uma fortuna com os reparos, estou andando por São Paulo devido apenas à boa vontade alheia. Porque já vitimei em sequestro os veículos de minha mãe, meu pai e minha irmã. Por enquanto.
E o mecânico, pertencente à corja de papai, já me avisou que a "coisa tá compricada" e não sabe quando "a viatura vai liberááá."
Estou bem, estou calma.
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