Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

domingo, 17 de agosto de 2008

Baianos Pictures Presents.....

Meu querido irmão, Rodolfo, é casado com uma moça soteropolitana, Flora, que abandonou a Bahia para viver ao seu lado. O feliz casal reside em Ubatuba, porque o moleque, infinitamente mais esperto do que eu, decidiu que não estava preparado para abandonar o surf em prol do trabalho. Assim, ele é proprietário de próspero comércio no centro da cidade e frequenta a praia diariamente. Puta idéia, essa.

Como não são nada pacatos, os dois frequentam assiduamente São Paulo. E a família de Flora, espalhada pelo mundo, aderiu ao hábito. Portanto, minha residência vive em situação constante, a grande festa da baianada. Sempre que vêm de Ubatuba, trazem algum ente caído de pára-quedas na região.

Neste final de semana, quem apareceu foi Marcelinha, uma das primas de Flora. Uma louca varrida, habitante de Salvador. E coloca todo mundo para dentro do camarote 2222, na Barra. Conheci a doida em Caraíva, alguns verões atrás.

Na ocasião, havia uma pentelha entre nós. Uma pessoa que, sentada à beira do Rio Caraíva, só fazia reclamar. Mau-humor ambulante, um poço de chatice. Como ninguém estava nem aí para ela, a mala decidiu que ia ficar doente, para encher mais o saco dos bêbados na praia. E arranjou uma intoxicação que incluía suor frio, vômitos, pressão baixa, dor no corpo, cãibras, falta de ar, enxaqueca, tremedeira, dor na unha, língua áspera e por aí vai. A chata atingiu seu objetivo, já que Caraíva inteira se mobilizou para tentar descobrir a origem do mal. Rodinhas formavam-se na praia; donos de pousadas reuniam-se no Bar; nativos organizavam uma convenção no beco do Pará; Pataxós executavam danças sagradas em torno da fogueira; o Pajé já fora acionado. Seria intoxicação alimentar? Água contaminada? Picada de algum inseto exótico? Ebola? Macumba? Só se falava nisso, uma nação consternada.

Quando Marcelinha, de saco cheio daquela chacrinha, levanta-se, acende um cigarro e olhando fixamente para todos, diagnostica com desprezo:

"Réssaca. Isso aí é réééssaca." E abandona o ambiente.

Ataque de riso coletivo, nunca mais pensamos na moribunda. Que ficou o resto do verão trancada num quarto escuro. E parece que ela está oficialmente proibida de cruzar o rio em direção à Vila.

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