Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Só tem lelé

Ano de fim do mundo é uma maravilha, né gente. Os malucos encontram seu lugar na sociedade, ganham a chance de se expressar, brotam como chuchus na cerca e é uma dádiva estarmos aqui para observar de perto paranoias desenvolvidas à base de muito talento criativo. Cannes devia mesmo era lançar uma categoria para premiar essa galera.

Outro dia vi na TV um crazy que é devoto do Big One. Ouço essa história há 37 anos e não ignoro que aquilo ali tem tudo para dar errado, mas convenhamos que até hoje não tivemos pistas reais de que vai acontecer HOJE ou talvez semana que vem, certo? Previsões são previsões. Apenas.

Mas voltando: ele realmente acredita que o grande terremoto vai rolar e está lá, sentado em sua casa, fantasiado de Crocodilo Dundee, aguardando a Califórnia inteira ruir. Enquanto isso não acontece, se prepara para o fim.

Te dizer que fosse eu moradora do epicentro de uma parada dessa magnitude e acreditasse de fato na tragédia, já tinha feito minha malinha e organizado minha mudança para qualquer parte, pra Prússia, Zâmbia,  Puta que Pariu, pros Quinto dos Inferno ou qualquer outro lugar neutro bem longe da falha de San Andreas, sabe? Se não estivesse esperando terremoto nenhum - fora os usuais - viveria minha vida normalmente, correto?

Mas não. Ele não. O homem QUER participar do lendário evento. Para isso, treina diariamente a técnica de matar gansos com seu estilingue [taí um cara OCUPADAÇO] e fabrica aspirina natural (o processo gira em torno de envolver uma certa árvore em plástico e usar o líquido condensado como analgésico, SEI LÁ) para o caso de haver uma briga de facas causada pela disputa de alimentos ou água, não me lembro. Ques mané briga de faca, malandro? Vá se catar, que isso não faz sentido nenhum, caracoles. Nego mora a 4 quarteirões do provável abismo sem fim, acredita piamente que a merda vai acontecer em no máximo 5 anos e fica lá treinando caça ao ganso e fabricando aspirina natural. Será que não passa pela cabeça desta criatura que a chance de não sobrevivência supera todas as outras expectativas? Sai correndo, meu amigo.

Aspirina natural.........oras.

Tem também a turma do pico do petróleo, da terceira guerra, da tempestade solar, todos com seus abrigos, estoques, treinamentos - com 4 meses de vida os bebês já são iniciados na arte da sobrevivência - armas fabricadas à base de pedra lascada, mas o mais legal de todos é o tiozinho da PANDEMIA.

Esse doido aposta todas as suas fichas na hipótese de que o fim se dará por meio de uma pandemia mundial. Não qualquer pandemia. Será uma gripe aviária infinitamente mais hardcore do que a que conhecemos, uma parada mutante originária da evolução do vírus em diferentes espécies, algo assim. Segundo ele, a população vai morrer numa velocidade louca e será um horror, pois covas não serão construídas a tempo e os corpos ficarão empilhados no meio da rua, um troço pavoroso. Ele pinta o retrato da desgraça como nenhum mestre faria e até eu fiquei com medo do discurso do maluco.

Este senhor segue as regras básicas para sobrevivência pós fim do mundo: tem um abrigo secreto, um estoque de comida infinito, armamento militar, máscaras anti gás, anti vírus, anti ar, todo o arsenal padrão. A parte legal é que sua mulher, uma japa mal humorada pra caralho, o considera um retardado mental e deixa isso claro diante das câmeras. Impagável a expressão de desprezo estampada no rosto da fulana enquanto o cara descreve com orgulho o quanto gastou e tudo o que armazenou para que sua família sobreviva por 2 anos no tal bunker.

Ele se gaba do estoque de comida e ela emenda com um "não concordo com nada disso". E grunhe. Ele mostra a quantidade de fuzis enfileirados num armário construído especificamente para isso quase saltitando de satisfação e ela comenta "isso é uma aberração". E bufa. Ele exibe uma quantidade de antivirais armazenados que, se empilhados, dão a altura do Kilimajaro e ela diz "gente normal não faz isso". Latindo. Deixa claro que acha um desmando gastar 500 milhões de dólares com uma imbecilidade imbecil como essa e convenhamos, há que se concordar com a japa. Ela tem colada na face aquela eterna cara de saco cheio. E bufa, sem parar. Como não ser solidária a esta pessoa?

Dou 6 meses para este ser um cara divorciado.Gastando toda a grana destinada à salvação com advogados,  pensão alimentícia e indenizações. E a japonesa sapateando e tocando castanholas enquanto ri da cara dele e nada em uma montanha de dinheiro. Mas vai ser uma Birkin de cada cor ca grana dos feijão enlatado, viu. Só de raiva. Certeza.

Eu acho vital ter acesso a este tipo de informação. Me dá a segurança necessária para não ter dúvidas sobre minha sanidade mental, condição que questiono constantemente.

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