Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A verdade por trás de uma imagem

Não sei se vocês já notaram, mas eu sou uma pessoa um tanto repetitiva. Tenho até alguma curiosidade em saber se meu quadro é patológico e estou quase certa de que, se for buscar informações, serei diagnosticada em várias esferas. Terei em mãos a comprovação de uma lista quase infinita de desvios comportamentais, o que me obrigará a gastar uma fortuna em medicamentos controlados.

Enfim.

Seguindo este padrão, de tempos em tempos eu desenterro este maravilhoso retrato tirado na Marquês de Sapucaí, pois eu vou dizer uma coisa para vocês:

"a amizaaaaaade, nem mesmo a força do tempo irá destruir....."

Passei quase todos os carnavais de minha vida adulta enfurnada no camarote nº1, garanto que por umas 50 vezes estive presente no grande evento, mas se há uma ocasião memorável, que resume como um todo o sucesso absoluto das tantas incursões à passarela do samba, meus amigos, a ocasião foi esta.

Gostaria de esclarecer que eu e Debis não fomos ali tietar Dercy e pedir uma foto. Eu e Debis estávamos já absolutamente alcoolizadas, que é justamente o comportamento esperado para pessoas que estejam dentro de um lugar onde a cada 10 passos tropeça-se em uma chopeira Brahma, entoando sambas de enredo dependuradas na janela do recinto. EIS QUE Dercy surgiu e pediu "um espaço pra ver o desfile, suas filhas da puta".

Assim nasceu a mais pura e verdadeira amizade de uma noite só que a humanidade já presenciou. 

Naquele ano, os copos de chopp eram todos decorados com desenhos de algum artista como Gustavo Rosa, Romero Britto, alguém desse nipe, não me lembro. Claro. Estranho mesmo é quando a gente lembra dos detalhes de um carnaval na Brahma. Mas voltemos. Os copos eram todos decorados e a Debis entrou numa paranoia bebum que envolvia pegar um copo de cada modelo, guardar na bolsa e levar pra casa. Típica decisão ~racional ~ que pessoas tomam após atingirem determinado grau de intoxicação alcoólica. 

Nessas, a Dercy já estava aboletada ali do nosso lado assistindo as escolas e tecnicamente nossa relação havia atingido o status de "turma". Só sei que o garçom que levava mé pra galera da janela sacou que Debis estava a confiscar os copos e lançou uma "olha, eu não posso mais servir aqui, tem que ir pegar bebida no bar". E é um cu esse negócio de sair da janela pra ir no bar porque sempre tem um retardado que vai roubar seu lugar, a dinâmica da coisa é complexa, tu tá cas perna dependurada pra fora, simplesmente não dá pra ir e voltar a cada 5 minutos, puta trampo, arranja-se brigas, é um inferno.

Foi aí que Dercy notou a tristeza no semblante de Debis e decidiu tomar as rédeas da situação, interferindo em nosso favor diretamente junto ao homem da bebida:

"Me traz uma bebida aí, ô viado! 3 copos hein, filha da puta!"

Digamos que ele ficou de mãos atadas. Como negar um pedido de Dercy Gonçalves, efetuado assim, da forma mais clássica possível, proferido com este grau de purismo? Não dá pra contrariar, ponto final, fim de discussão, assunto encerrado e resolvido.

E assim a noite transcorreu. Dercy providenciava os drinks, Debis empilhava copos dentro da bolsa e cantávamos como umas desesperadas. Adotamos o vocabulário típico e chamávamos todos de filha da puta, foi um troço mágico.

Resumindo, é essa a origem da foto. Eu, Debis e Dercy, BFFs. Não nos largamos nem por um segundo. Aquela velha história, né: cada qual com seu semelhante etc, não há como negar as grandes verdades da vida.

No final da noite, após o desfile da última escola, nos preparávamos para ir embora quando Debis tropeçou - claro - derrubou a bolsa, caiu estatelada sobre ela, esmigalhou os copos todos em mais de mil pedaços e nunca rimos tanto desde que nascemos. 

Fim.

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