Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Malucos S/A

Imaginem vocês que eu tinha uma sócia infinitamente mais louca que o palhaço Bozo. Ela fazia - e permanece fazendo - cada merda na vida que nem Deus acreditava. E não crê até hoje. Certamente, lá das alturas, olha e pensa:

"Putzavida, olhaê, mais uma da safra da Baby Consuelo. Eu SABIA que não devia ter finalizado esse lote durante aquela última temporada terrena em Amsterdam. Esse negócio de menu de psicotrópicos realmente é para os mortais, não para um cara que carrega nas costas a responsabilidade que me foi imputada. Parei com esse negócio de ácido, sério. De agora em diante é vinho e nada mais. Parei MESMO".

Pensem que Ele botou na Terra, além da Baby e desta minha ex-sócia, gente como o Supla, o Serguei, Michael Jackson, Narcisa......e deve estar caçando os produtos dessa fase onde provou de tudo um pouco até hoje. Porque se olha por nós, se joga pelo Corinthians e se é brasileiro (decisão tomada provavelmente depois de consumir cogumelos alucinógenos), não pode simplesmente eximir-se de cuidar deste rebanho específico, certo? Os crazy também são seus filhos, a parada tá feita, dá pra abandonar não. Danou-se.

As façanhas dos doido supra citados que alcançaram a fama todos conhecem, correto? Não há necessidade de apresentá-los, já que foi justamente a capacidade de agir estranhamente que construiu suas respectivas reputações e lhes deu a notoriedade que têm. ÓQUEEEI, tá bom, Baby tem um talento incontestável, Michael Jackson atingiu o status de gênio, posição à qual um número irrisório de seres humanos chegou, mas não podemos negar que o comportamento absurdamente anormal de ambos sempre foi um caso à parte e contribuiu em muito para sua presença constante nas pautas. Nos dois casos, sempre comentou-se sobre obras, performances, sucesso E maluquices muito loucas. Impossível ignorar.

Já minha ex-sócia....bem, se eu fosse contar para vocês as coisas que presenciei, passaríamos 8 dias aqui listando sandices. Nem sei por onde começar, mas acho importante revelar que uma de suas grandes especialidades sempre foi cair (parêntese)

[quando eu digo cair, estou me referindo a SE ESTABACAR, como rolar em cambalhotas uma escada de 60 degraus chegando lá embaixo sem os sapatos e com a saia suspensa à altura do pescoço, bunda de fora, sendo que um pé do sapato já tinha ido parar no meio da rua entre os carros, ou tomar tropeções que a faziam voar 50 metros, sempre dando com a cara numa porta de vidro, movimento que, invariavelmente, resulta em um estrondo impossível de ser abafado. Claro que estes são apenas DOIS exemplos dentre as milhares de ocorrências do gênero]

(segue) quando estávamos na companhia de clientes importantes/possíveis clientes importantes. Nem sei como essa gente nos contratava. Devem ser da mesma leva, a tal "coleção Amsterdam século XX". Nada mais explica o fato de os contratos terem sido sempre renovados e de termos vencido concorrências monstruosas que aconteciam em nível América Latina. Nada.

Outro dia emendamos um lero no Facebook que nos fez relembrar duas de suas atuações memoráveis. Não abordamos os tombos cinematográficos, pois não dá pra competir. Eles são o Clovis Bornay do comportamento estranho.

Certa vez, essa mulher marcou uma reunião com uma pessoa cuja existência eu desconhecia. Eles iriam resolver um assunto sobre o qual eu não tinha qualquer tipo de informação mas parece que era realmente algo relacionado aos interesses da empresa ACHO EU. Minha ignorância sobre o encontro estava no patamar onde eu não sabia o nome, a função, de onde saiu, onde trabalhava, nacionalidade, se o cara era credor, cliente, fornecedor, traficante, O CABELEIREIRO dela, nada. Porra nenhuma. O nego nunca foi mencionado, nunca. NUNCA.

Nosso escritório era uma sala num prédio comercial na Vila Nova Conceição e como o espaço era grande, com janelões de ponta a ponta, decidimos por não dividi-lo. Então, ali na grande sala a empresa funcionava sem paredes, com invejável iluminação natural, apesar dos vidros fumê, naquele ambiente livre, amplo, arejado, claro, uma coisa super "loft". Tínhamos nossas mesas próximas à janela, grandes cadeiras de presidência, frigobar, um belo Chesterfield, maravilhosas obras nas paredes, uma beleza. Havia um lavabo e uma pequena área de serviço. Tudo ali, tudo junto, sem fronteiras.

Tá. Daí, a portaria liga avisando que o Sr. Estranho do Caralho a Quatro estava subindo para reunião com a Dona Sócia. Ela olha para minha cara e sem maiores explicações diz:

"Deus me livre, não vou falar com esse cara nem fodendo"

Ao que eu respondi:

"Beleza, mas QUEM É essa pessoa?

Segue diálogo entre nós:

"Não interessa, não vou, não posso, não quero, me ajuda, fala que eu não estou, se livra dele, não, não não!"

"Mas como eu vou falar que você não está aqui se você está aqui? O cara tá subindo, minha senhora, só se você pular pela janela. Você vai dar de cara com ele no corredor se tentar sair, ELE ESTÁ NO ELEVADOR!"

"NÃO SEI, NÃO SEI, VOU ME TRANCAR NO BANHEIRO, INVENTA ALGUMA COISA"

"Mas e se ele pedir para usar o toilette?"

"Fala que não tem, que essa porta é de mentira, é decorativa, se vira"

"Mas QUEM É essa pessoa, minha filha? O que eu falo? O que ele quer?"

"Não sei, não lembro, é um puta chato, tchau"

Entrou no lavabo e lá trancou-se. Calculem meu bom humor.

Campainha toca, abro a porta, um cara de terno entra e diz "oi, tudo bem, tenho uma reunião com a Sócia".

O que me restava? Gritar JERÔNIMOOOO e me jogar pela janela Acomodar o sujeito em uma poltrona, fazer cara de séria, servir um café, uma água e dizer que infelizmente a Sócia faleceu esta manhã teve que resolver um assunto fora da empresa em caráter de urgência, era vida ou morte, por isso foi obrigada a cometer a falta de gentileza de não estar presente. A coisa era tão grave que ela não teve tempo nem de avisá-lo, vejam que loucura. Ela estava muito chateada com tudo isso, por isso pediu que eu o recebesse para explicar pessoalmente e tentar adiantar o assunto, pois sabe como é, deadlines às vezes nos colocam em situações que jamais cogitaríamos. E ele:

"Nossa, que coisa, não? Eu entendo perfeitamente. Urgências são sempre urgentes, né? [ra...ra...ra...otário] Não temos controle sobre isso, eu realmente compreendo, viu? Não tem o menor problema, mas já podemos deixar um horário agendado para quinta?"

E eu querendo despachar o fulano antes que algo entregasse o caô, pois conhecendo a sócia que eu tinha, sabia que era apenas uma questão de tempo. POUCO TEMPO.

"Sim, claro, deixamos para quinta à tarde, ok? Ligo antes confirmando [tipo: tchau]"

"Perfeito, mas olha: vou aceitar outro café, tá? [MERDA] Muito agradável o escritório de vocês, né? Bem localizado, amplo, que vista!"

Eu suando frio e o homem emendando o maior papo. Minha veia da testa começava a latejar.

Cinco cafés depois, nada apontava a intenção do Sr. Estranho em partir. Subitamente, ouvimos um barulho CATAPLOFT PLOFT BUM BAM PÉIN PLOFT PLOFT PLOFT BUM vindo de onde? Me digam? De onde?

Do lavabo, claro. Barulho seguido de risos descontrolados.

Expliquei para ele que o prédio estava com um problema no encanamento e às vezes as obras de reparação geravam tais ruídos. Comentário do Sr. Estranho:

"Mas parece que alguém caiu ali no banheiro....."

"Pois é. Sempre faz esse barulho, sempre nos assustamos achando que foi alguém que caiu [cara de bunda em pânico]."

"Estranho, né? Porque realmente parece que algo bateu na parede...."

"É. É um absurdo. Construções novas, você sabe como é. Por isso que eu prefiro os prédios antigos, com paredes consistentes. Hoje em dia ouvimos tudo o que acontece ao redor e...."

[pelo amor de Deus, vai embora meu filho, vai embora, vai embora]

"Sim, tem razão. Eu mesmo sinto isso quando vou à casa de amigos que moram em apartamentos novos. Parecem todos feitos de papelão [ra.....ra....idiota], ouve-se tudo, é um problema, acabou-se a privacidade."

"É......"

O CELULAR DA MULHER TOCA. DENTRO DO LAVABO. PORRA.

Celular tocando e eu fazendo cara de retrato. Como se nada estivesse acontecendo. Quase comecei um "laaararararalalalriririrriiii", mas desisti.

"É o seu que está tocando?" - pergunta Sr. Estranho.

"Meu o quê?" - a louca.

"Seu celular."

"Celular? Não estou ouvindo."

"Tem um celular tocando dentro do lavabo."

"Tem? Que incrível, não ouço..."

E do lavabo vinha o som: "triiiiiiim, triiiiiiim, triiiiiiiimmmmmmmmm hahahahahahahahahahaha triiiiimmmmm, triiiimmmmm, HAHAHAHAHAHAAHA."

"Ah, sim! Deve ser o meu."

"Você não quer atender?"

"Não, não....."

E meu celular ali, em cima da mesa, em frente às nossas fuças. Quase disse "olha lá!" para ele virar de costas e eu jogar o aparelho janela abaixo, mas ainda bem que não fiz isso e vocês vão entender o porque quando chegarem à próxima história.

Enfim, o cara foi embora achando tudo muito, mas muito estranho e quando eu abro a porta da merda do lavabo, encontro a retardada da minha sócia deitada no chão, em estado de histeria causada pelo riso, com a tábua da privada quebrada e o celular na mão.

De alguma forma, ela estava sentada sobre a tampa do vaso e conseguiu cair (?), quebrar tudo, dar com a cabeça na parede, tentar se apoiar e derrubar tudo o que tinha lá dentro e quando o celular tocou, a miserável já estava administrando o ataque de riso, portanto não conseguiu silenciar o aparelho.

O que dizer sobre isso? Algo a dizer? Algum comentário? Hein? Claro que não. Não há comentários para ISSO.

O interessante é que nunca mais ouvimos falar do tal Sr. Estranho, ela realmente não sabe o que ele era, o que nos leva à conclusão de que eu, tampouco. Sei lá. Nunca mais vi. Graças a Deus.

FIM DA HISTÓRIA CRETINA #1

Em outra ocasião, estávamos eu e ela sentadas em nossas belas mesas, emolduradas pela magnífica paisagem que nossa parede de vidro fumê nos proporcionava. Conversávamos sobre amenidades, papo furado. Não debatíamos o futuro da empresa, nem fazíamos piadas sobre clientes, conhecidos, inimigos ou nós mesmas. Falávamos sobre algo inócuo. O conteúdo do diálogo não continha nada, absolutamente nada que pudesse causar nenhum tipo de emoção e quando eu falo sobre nenhum tipo de emoção, estou incluindo aqui risos, risadas, sorrisinhos, nada. Era algo como "acho que vai fazer sol esse fim de semana, viu" /"ah, eu ouvi dizer que o tempo muda amanhã" / "não, não, acho que fica firme" / "tomara". Sabe? Papinho planta de gente que tá sem assunto. JURO.

Ela tomava uma Coca-Cola enquanto levávamos adiante essa profunda conversa e de repente, não me perguntem o que foi pois não tenho a mínima ideia e jamais poderia prestar esclarecimentos sobre o fato, mas algo despertou nesta pessoa uma vontade incontrolável de rir. Rir muito. Pra mim, isso é possessão por espírito zombeteiro pois, sem mais nem porque, ela pôs-se a gargalhar desenfreadamente, me dando a nítida impressão de que estava à beira do sufocamento.

E estava, já que o ataque começou exatamente no momento em que havia dado aquele grande gole no gargalo da garrafa de Coca. Visando não morrer por falta de oxigenação cerebral, decidiu por cuspir a Coca-Cola que estava em sua boca e arrisco dizer que, pelo tamanho em que suas bochechas estavam dilatadas, havia ali uns 400 ml de refrigerante. Virou de frente para a janela e cuspiu o líquido preto com a força de um hidrante. A janela estava fechada. (Entenderam porque compreendi neste momento que jogar meu celular janela abaixo enquanto estava com Sr. Estranho seria a pior decisão da minha vida? Gosto nem de pensar nisso.)

Não tenho comentários a tecer. Nunca tive, não é agora que vou arranjar palavras para falar sobre este caso. Quase tive que levar essa descontrolada em um pet shop, pois imaginem o estado da FDP depois que aquilo tudo bateu no vidro e voltou direto em cima dela. Imaginem meu chão (um lago), imaginem o estado da mesa, computador, imaginem o teto (estalactites/goteiras de Coca-Cola). Pensem na CARA e nas roupas, no resultado geral deste ato insano. Como dar jeito? Não tinha como.

Quase liguei para a família. Um caso desse é assunto para a família. Toda vez que falo sobre isso me choco como se tudo tivesse acabado de acontecer. Nunca hei de me recuperar.

FIM.

E não é que na semana passada, DEZ anos depois de tudo isso ter acontecido diante de meus olhos, recebo a seguinte mensagem? Por favor:

"Paulinas, o que significa sonhar com 2 aranhas de dreadlocks laranja? Elas saíam do meu chuveiro. Eram pequenas e estavam mortas. Eram engraçadas."

Querida ex-sócia: são seus neurônios. Na verdade, o que restou deles. Agora não resta mais nada. Estão mortos, sim? Keep swimming.

Beijos

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