Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

terça-feira, 26 de junho de 2012

Décadence SANS élégance

Saibam que minha intenção era publicar um estudo, uma tese, um treco profundo mesmo sobre a experiência antropológica pela qual passei na outra semana, mas fiquei com medo de desenvolver um tumor cerebral gerado pelas lembranças aterrorizantes, logo, vamos a uma versão resumida da coisa toda.

O mote é: O QUE ACONTECEU COM A NOITE PAULISTANA, MINHA NOSSA SENHORA APARECIDA PADROEIRA DO BRASIL E MÃE DE JESUS CRISTO?

Será que eu imaginei o glamour que existia no meu tempo? Será que ele foi real e sumiu na poeira? Será que as pessoas que frequentam a noite atualmente são retardadas? Ou será que eu era xófem e não tinha discernimento suficiente? Será que as coisas eram assim e eu não enxergava? Se for isso, a parada é gravíssima e ainda bem que hoje sou uma VELHA que sabe diferenciar o certo do errado. Alguém me ajuda?

Estou confusa.

Pois juro pelos meus cachorros que a MINHA noite paulistana, a de outrora, em nada se assemelha ao que vemos hoje em dia por aí. Que. Medo.

Bem. Eu estava quieta e feliz tomando um chopp (tá, uns chopps. okay, milhares de chopps, que diferença faz?) no meu querido Filial quando fui induzida pela turma que me acompanhava a me mover de lá em direção a determinada casa noturna cujo nome não citarei porque VAI que o dono da birosca leia isso aqui e venha me importunar e....bom, seria obrigada a mandar ele para algum desses lugares que não constam no mapa mundi e usar de agressão verbal, uma vez que logo ao entrar no lugar, foi quebrado um copo no chão e o próprio chutou os caco tudo no meu pé. Tenho cicatriz, tenho marcas, posso provar, mas nem to muito a fim de estabelecer contato com uma besta humana dessa categoria. Derrrr me livre.

Tá. Entro no local e sou atacada pelo dono. Começamos mal. Mas mal mesmo tava a situação das pessoas que aguardavam na porta, porque vocês nem imaginam as vestimentas. Má nem em festa a fantasia, nem pra pagar aposta, tá ligado? Era um tal de legging preta com vestido branco, bota marrom e jaqueta laranja (na mesma pessoa, que fique claro), calça de lurex com blusa curta numa bunda de 120 cm e banha saindo pelas beiradas, saia hippie com scarpin Louboutin falso e camiseta de paetê, saia-cinto com top de barriga de fora com mais banhas pulando pra fora - estava frio+chuva e as nega nem um banlonzinho levaram, cadê a mãe dessa gente? - calça de couro preta com sandália dourada, top de couro vermelho e jaqueta de couro perfecto cinza, quase tive uma ataque epilético. Uma coisa amedrontadora, pavor, pânico, tendências suicidas se manifestando dentro do meu ser.

Bons tempos. O conceito "biscate não sente frio" é muito atual  para  mim, sabe?

Depois de passar por este conjunto de visões do inferno e ser atacada pelo dono da BOATE, numa tentativa de voltar ao normal escoro no bar e peço uma cerveja. Só tem Heineken e Sol. Malzaê, mas prefiro tomar água da privada, Crystal, Guaraná Jesus, coisas desse tipo. Posso odiar Heineken? E Sol, também posso? Putz, valeu hein, brigada mesmo.

Agora, por favor, me imaginem A SECO em um antro de breguice como este e calculem o tamanho do meu bom humor. Vamos lá, gente, a conta é fácil.

Ainda escorada no bar, tentando decifrar o que seria do meu futuro, um grupinho de pós adolescentes aproxima-se de mim tentando fazer amizade, o que era impossível no momento devido ao meu humor. Vocês calcularam, então fica fácil de imaginar. Tá. Para quem não calculou, eu estava BUFANDO, certo? Agronopoulos Style?

"Ooooooi, tudo bem? Como é seu nome?"

"hunf"

"Nossa, você não vai dar nem um sorriso?"

"grunf"

"Tanto homem (amigos rindo em volta) te achando a menina mais gata da balada e você nem vai dizer seu nome?"

"rumf"

"Tira uma foto nossa?"

E me passou um Iphone cuja tela estava com os ícones aparentes, sem câmera aberta, antes mesmo que eu pudesse responder "hunf".

Enquanto eu mexia na merda do telefone do garoto para abrir a câmera, tirar a foto e mandá-los, enfim, à merda, o mentor intelectual da turma dos babaca lança a pergunta:

"OW, você sabe mexer em Iphone?"

Não houve resposta. Montei um apanhado dos meus melhores olhares (reprovador/desprezo/pena/ódio absoluto/ameaça) e o encarei. Ele meio que se assustou e eu respondi:

"Juntaê seus mongol."

E antes de devolver o telefone emendei um discurso sobre quem é mais esperto, quem sabe mexer em Iphone, quem viu a internet chegar ao mundo e quem sempre operou Macs. Continuei dizendo que, enquanto ele mentia idade para poder entrar no mingau dançante do clube, onde a mãe dele o levava e a mãe do idiota ao lado ia buscar, eu estava comemorando o tetracampeonato bêbada pelas ruas de Monte Carlo com a bandeira nacional tremulando pela janela do meu carro e o jingle da Brahma - que deu origem à "musica oficial" das transmissões de futebol na Rede Globo - tocando no moderníssimo CD Player que eu já possuía instalado no painel. Prossegui dizendo que quem toma vodka com energético não tem o mínimo da estirpe exigida pela noite paulistana e jamais imaginou que, merda por merda, a gente tomava vodka com menta enquanto rodopiava pela pista do Rose Bom Bom ou assistia a algum show incrivel no Victoria. Isso sem contar as cortinas vermelhas da Creações Wally, onde de fato havia uma door policy decente. Não citei Nation, Madame Satã e Massivo, pois a esta altura, o menino já estava meio pálido. Também não comentei sobre ele pedir dinheiro ao pai para ir em matinées enquanto eu já estava dançando dentro de uma gaiola suspensa na Alameda Itu, pois concluí que ele certamente faz isso até hoje. Pedir dinheiro pro pai. Não confundam as pessoas, quem estava na gaiola era eu, pelo amor de Deus.

Finalmente decidi ir embora e, ao cruzar a porta em direção à liberdade, ainda tive o prazer de avistar uma garota entrando no lugar só de blusa. 9 graus e a mina de blusa.

A hostess olhou para mim como que pedindo ajuda, mas eu nada podia fazer por ela. Embarquei no meu carro e rumei para longe daquela danação.

É engraçado e triste ao mesmo tempo.

Lastimável, diria.

2 comentários:

Cheshire cat disse...

Olha, é por essas que esse negózdi "balada" já foi riscado da minha lista de coisas a fazer. Fico no Valadares que lá ninguém me decepciona.

Paulinas disse...

mas eu sou dessas, xará!!! Eu só vou ao Fili, entende? Fui ARRASTADA. (Fili é apelido, sabe? Do Filial)