Lembro quando a ela chegou em casa. Foi no ano 2000, estava friiiio e meu pai apareceu com aquela coisinha no colo. Era uma filhotinha linda, orelhuda (as orelhas quase arrastavam no chão) e minúscula. Pretinha e vira lata, mas com pinta de cocker e lindos olhos cor de mel. Lindos. Minha mãe olhou meio torto, mas nenhum ser humano normal não aceitaria aquele bichinho assim de cara. A gente arranjou um lugarzinho pra ela lá fora, pois ainda éramos tontos o suficiente para dizer que "lugar de cachorro é fora de casa". Que grande besteira essa. Ela dormiu nas nossas camas por toda a vida.
Foi recolhida da rua, pois estava NO MEIO DA AVENIDA, em cima da faixa dupla que separa as duas pistas. Meu pai a resgatou e batizou na hora:
Dona Jurema
Nesse tempo o nosso quintal ainda era de exclusividade dela. Quem diria que tantos viriam e até filhotes, que estão ao nosso lado até hoje, nascidos lá em casa mesmo, a Jurema nos daria?
Nem imaginávamos o quanto essa pretinha ainda iria nos fazer felizes.
Virou a rainha da casa instantaneamente. Como não amá-la? Sempre foi uma figura. Dengosa e carinhosa (hoje a grande amiga Gabi Aidar me disse que foi a cachorra mais charmosa que ela já conheceu. É verdade), nunca gostou de "autoridades". Quem mandava ali era ela, entendeu? Recebia ordens e olhava para o infinito - sempre ri muito disso - dizendo "hein? comigo? não estou ouvindo não, minha filha". Tinha o poder de fazer cair no chão qualquer coisa que estivéssemos comendo e abocanhava pedaços de pão no ar com uma rapidez circense. Gostava de brincar com isso: nós levantávamos a comida e ela, sobre dua patas, girava em torno de si mesma até dar o bote. Comia de tudo. Até alface.Grande companheira de mesa do meu pai. Ele sempre reclamou, mas sei que adorava. Ela tinha lugar cativo, sentada no chão, bem ao lado dele. O esquema era "um pra mim, um pra você".
Minha mãe aprendeu a amar cachorros com a Jurema. Formou-se uma dupla. Viraram grandes companheiras, criaram entre elas um amor indescritível. Grande ensinamento de uma cachorrinha para uma adulta experiente.
Passou-se um tempo e minha irmã Gabi chegou de Caraíva com o Tulipo, um filhotinho de Lhasa Apso mais fofo do que tudo. Ali formou-se outra dupla. Inseparáveis. Nunca conseguiram ficar longe um do outro. Nem para comer, nem para tomar banho, nem para ir ao veterinário. Nem pensar. Eram Pinky e Cérebro. Claro que a Jurema era o Cérebro, né.
Eles amavam correr no Ibirapuera com o Dodô. Dormiam juntos, passeavam juntos, sempre fizeram tudo juntos. Grandes amigos, de verdade. Tem gente que passa uma vida inteira sem isso. Dois cachorrinhos conseguiram na hora.
Desenvolveu uma técnica infalível para que "não fosse esquecida" em casa. Sempre que alguém estava fazendo uma mala, ela esperava o primeiro piscar de olhos e entrava dentro da bagagem. Quando chegávamos de viagem, ela esperava que a mala fosse aberta e dormia lá dentro por garantia. VAI QUE, né?
Quando passava temporadas em Ubatuba, tomava tanto sol que ficava ruiva.
Adorava dormir embaixo da cama. Nunca levantei tanta cama na vida, pois ela entrava lá e ficava presa, claro. Via aquele focinho de fora e o barulho das patinhas arrastando nos tacos do chão e a louca lá: entalada.
O jeito da Jurema abanar o rabo era único. Ela não abanava o rabo, sacudia o corpo inteiro e sempre trazia algum objeto na boca para quem estivesse entrando em casa. Quantos controles remotos sumiram.....quantas havaianas sumiram.....
Sempre de laçarotes no cabelo, sempre linda.
E era uma celebrity. Famosa Juju. Sorte de quem a conheceu. Sorte de quem viveu com ela.
Há tanto a se dizer sobre a Jurema, que este post provavelmente será editado durante toda a minha vida.
Dei tantos apelidos para ela que certamente a minha preta pensava que eu tinha um DDA incurável.
O último foi "Pipoca". Antes desse, "Nicanica".
E hoje, nesse triste 17 de maio, ela nos deixou. Foram 12 anos de muito amor. Eu nunca acreditei muito nesse negócio de "céu". Mas hoje, quero que ele exista, pois é lá que ela está.
Minha mãe disse: ""O mundo pode até nos fazer chorar, mas Deus nos quer sorrindo"sempre e sempre apesar das noites traiçoeiras. Nossa amiguinha eterna, fiel e companheira, anjo de quatro patas, voce foi MUITO importante em nossas vidas, participou de todos os momentos bons ou maus, nos dando alegria, nossa princesa, nossa pretinha Juju, adeus e obrigada por ter sido nossa."
Vamos ter que aprender a viver sem a nossa princesa. Não sei como. Não me lembro de como é a vida sem a Jurema. Eu talvez nunca aprenda.
Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas
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