Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Um feliz trabalhador

Todos os meses, recebemos na loja a visita de um funcionário da Eletropaulo, cuja função é realizar a leitura do relógio de luz para que a referida empresa calcule o valor de meu gasto no período e assim, possa, finalmente, enviar a conta para que paguemos.

Trata-se de uma pessoa nada otimista, digamos assim. De acordo com a opinião de mamãe, "é uma figura esdrúxula".

Além de sua aparência exótica - ele é altíssimo, magérrimo, seus cabelos são longos e desgrenhados no melhor estilo ninho e presos em um malfadado rabo de cavalo; possui também olhos esbugalhados, que saltarão de sua cara a qualquer momento, atacando, assim, a pessoa logo em frente -, o que faz de seu jeitinho algo fofo e especial é sua personalidade, regida pelos princípios básicos da liderança sindical revoltada.

Enquanto pluga o apetrecho que faz a leitura no relógio, discursa. Sempre.

Mês passado, a pauta foi a dificuldade que enfrenta para executar o serviço, causada pela falta de equipamento. 30 minutos completos, falando, falando, falando.....

Importante informar que sua voz poderia ser facilmente confundida com à de um tenor histérico. E seu linguajar é todo baseado em gírias da classe "mano".

Neste mês, chegou lá feliz, com um cabo moderníssimo que faz todo o trabalho so-zi-nho!!! Seu problema, porém, consistia em saber SE daria certo. SE aquele treco funcionaria.

"Me deram essa parada aqui, mano, dizendo que a parada é de lei, mas vamo vê se funciona, né mano! Vamo vê se a chefia não tá quereno só dá um calaboca em nóis né, mano!"

Funcionou. Em 2 segundos a leitura estava completa. Sendo assim, Feliz mudou o rumo da conversa para o risco de ser eletrocutado pelo tal cabo, o que, em seu entender, gera processo trabalhista por periculosidade, como fizeram os carteiros, bla, bla, bla......

"Vamo vê se essa parada não vai me grudá na parede quando eu for tirá dali, mano. Se essa parada me fritá, eu coloco no pau, mano. Vão ter que me pagá!"

Ele, porém, não é sindicalizado por prestar um serviço terceirizado ("eles não ligam pra gente, mano, a gente é terceirizado, certo..."). Mesmo assim, continua afirmando que quando sair, vai colocar a Eletropaulo no pau, embora esta tenha afirmado que o material não oferece risco algum. Se assim for, há perigo ainda por ele ter que caminhar no sol - câncer de pele.

"Periculosidade, mano!"

Conversinha matinal que quase fez com que minha mãe arremessasse o cidadão contra um ônibus em movimento.

Um comentário:

Mosana disse...

eu ri mto lendo isso.. o cidadão que faz a leitura daqui de casa tb é uma figura rara.
acho que esses caras são selecionados a dedo.
o daqui é baixinho e meio grisalho.. o palavreado BEM jeca. usa termos que eu quase nunca entendo e me lembra muito o zé buscapé!
ahuahauhauhauahauhauha
dava um livro esses hominhos!
mas adorei mermo foi sua mãe.
kisses