Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Reminiscências - 1994


Outro dia aí postaram esta foto no Facebook


e iniciou-se uma conversa sobre invasão de corintianos ensandecidos no Japão. Um dos participantes disse que "Godzilla faria a festa" e eu logo expliquei que não. O pobre Godzilla está acostumado a atacar japoneses, seres civilizados por natureza, e que 5 ou mais pessoas vestidas ca brusa da Gaviões configura assalto/violência/barbárie/confusão, por mais que não seja esta a intenção do grupo. Mesmo que sejam Lamas corintianos. É a mensagem transmitida, compreendem? Sou dessa turma, ando assim pela rua nas ocasiões oportunas e até eu me assusto com minha figura vez ou outra, sabe? Tenho aquele lampejo "ASSALTO!" mas logo me lembro que trata-se de mim mesma. Enfim.

Godzilla sairia correndo para o outro lado. Esta horda não é de responsabilidade do setor dele, o cara tá em outro nível. Ele mexe com japoneses. É disso que ele cuida.

Continuei a conversa comentando que Tokyo chocar-se-á, pois estamos falando aqui de brasileiros/corintianos, facção distinta cujas regras de convívio social têm uma cartilha bem peculiar, digamos que própria.

Para exemplificar disse que sempre achei a conquista do tetra em L.A. nosso maior vexame (inter)nacional, com aquela batucada toda e aquele povo pegando aviões de NYC pra Califórnia vestindo o uniforme completo da seleção e zabumbas em punho, porque brasileiro É empolgado e esses caras não dão ousadia para manifestações classificadas como FUZUÊ, envolvendo berraria, samba e grandes concentrações humanas cantando ao redor de mulatas semi-nuas rebolando pela rua. Eles acham tudo meio latino demais, meio primata demais, meio selvagem demais, meio demais demais. Brasilidade é um troço complicado, convenhamos. Galera não trabalha com LIMITE.

Imagina então japas lidando com a nação corintiana. Eles não acham divertido, eles não acham interessante, eles acham que a gente devia mesmo era morar num zoológico que nos despachasse em um navio sem rumo para Madagascar.

Quero ver é o inferno que será conseguir um visto para o Japão depois do grande evento. Se EU fosse o responsável nem abriria o passaporte do cara.

"Brasilêro, né? NEGADO, BUM!"

Porque os americanos ficaram realmente abismados com o procedimento tupiniquim em 94. Já europeu.....topa essa baderna meio que na boa. Me parece que eles possuem uma maior capacidade de adaptação às festividades que organizamos em seus países.

Eu, que sou finíssima, vi a tal conquista do tetra em Monte Carlo e os monegascos bem que moldaram-se até demais. Torceram, aprenderam a tocar um tamborim, as ruas foram fechadas e aquilo lá virou um sambão a céu aberto em meio ao glamour do Principado. Eles acham exótico, adoram. Mas só eles. Norte americanos detestam e aposto que japoneses também não aprovam. Devo confessar que eu mesma tenho ressalvas em relação a gente empolgada, mas enfim.

Voltando à Mônaco e o tetracampeonato: a torcida foi dividida entre Itália (com os italianos) X Brasil (composta pelo RAPA). Imaginem o nível de loucura que pairava naquele lugar onde a Europa INTEIRA vestida com a camisa da seleção xingava cada italiano que ousasse se movimentar. Foi tequila pra tudo o que é lado. Após a sofrida disputa de pênaltis aquilo degringolou de vez e foi tamanha a invasão de malucos desorientados à Avenue Princesse Grace que tudo o que posso comentar é que eu estava no meu automóvel acompanhada por Gaby, uma americana tresloucada, com algum tipo de batucada tocando no volume máximo - o que acontecia em todos os conversíveis ali parados, cada um com sua música - que na hora em que dei por mim, vi a cena inimaginável de Samantha enrolada em uma bandeira do Brasil dependurada para fora da janela do carro de nossos amigos belgas cantando a plenos pulmões:

"Vai Brasil dá um show, mete a bola na rede e mata minha sede de gol! Mais um, mais um!"

Um horror.

Logo em seguida, bati meu carro em um vaso decorativo do tamanho de uma máquina de lavar roupas e quebrei o troço em mil pedaços. Fui abordada por policiais que queriam me levar não para a prisão, mas sim a um manicômio, pois eis meu argumento de defesa:

"Monsieur, but Brasil won...we are chaaaampions of the woooorld!"

Fui liberada. Eles se adaptam, mas nem tanto. Odete não aprovaria, aquilo é a guarda do principado, modos, por favor.

Finalizando, fui achar Samantha 2 dias depois e pensa numa pessoa em frangalhos. A programação deste dia envolveu acompanhá-la a uma consulta médica para que ela obtivesse receitas que permitissem a compra de remédios. Ficou no quarto por mais 2 dias.

Enquanto isso, eu já estava novamente bêbada em Cap D'Antibes com Lucia, uma brasileira desconcertada que firmou residência em Monte Carlo e Gaby, a americana tresloucada.

Até agora não sei como isso não terminou em cadeia, deportação, expulsão, extradição.

Se fosse hoje, acabaria em morte. Falência múltipla. É realmente excelente ter 18 anos, viu xófens?

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