Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Quero ser o Fabinho

Alguns eventos protagonizados por clientes da espécie "pentelho master" que ocorrem dentro de meu estabelecimento comercial me fazem pensar em como aquilo acabaria se eu não fosse eu, e sim o Fabinho.

Fabinho vem a ser um grande amigo da família infinitamente mais esperto do que eu, o que o tornou o feliz proprietário do Bar da Praia em Caraíva, cujas dependências abrigam também seu fabuloso hotel, Casas da Praia. Puro luxo à beira mar.

Fabinho é um lord, uma simpatia, solícito, divertido, animado, um doce de pessoa. Tudo isso vem dentro de sua respeitável envergadura. O rapaz é enorme, um T-Rex. No último verão, uma de suas hóspedes comentou que tinha a clara impressão de que o chão tremia sempre que Fabinho se aproximava. E ele está sempre lá, no balcão do Bar, com seu jeito bonachão, confraternizando com hóspedes, clientes e suas respectivas cervejas.

Mas se tem uma coisa que acaba com o bom humor de Fabinho, é o cliente "pentelho master"em ação. Não ouse fazer reclamações descabidas, destratar funcionários, implicar ou não cumprir as normas da casa e, principalmente, nunca, jamais aja da maneira "estou pagando, exijo absurdos".

Você provavelmente será expulso após um belo esporro. Nos casos mais complexos, você será arremessado na areia. Se for hóspede, sua bagagem também será arremessada deck abaixo. Já vimos esta cena algumas vezes e sempre houve total aprovação dos convivas pela eliminação do chato. Quando notamos uma crise em andamento é regra procurar pelo melhor ângulo para assistir ao arremesso. Porque, quem sai de São Paulo para infernizar a vida alheia no sul da Bahia, merece. Merece coisa pior. Penso que Fabinho usa de muita bondade para com os farofeiros.

Esclarecida a razão deste cara ser meu ídolo, voltemos ao meu "pentelho master":

No início desta semana, apareceu em minha loja um japonês idoso e mal educado que, obviamente, não gostou de nada.

"Vocês nem trabalhar sabem. Como, em uma loja deste tamanho, não há nenhuma camisa com mangas 3/4?"

De nada adiantou a explicação do santo vendedor que o atendia sobre o final do estoque destas peças e sua reposição, que se daria em 10 dias.

"Bando de vagais. Não quero esperar nenhum dia. Vim até aqui para comprar a camisa e quero hoje. HOJE! Que falta de respeito fazer uma pessoa que quer gastar dinheiro com esta porcaria de loja, esperar! Quer dizer que eu perdi a viagem? Hein? HEEEINNN?"

Foi quando o vendedor, pensando melhor e largando a foice que planejava usar para decapitar o japonês, sugeriu que a criatura escolhesse alguma camisa de mangas longas para que uma de nossas costureiras transformasse a peça em um modelo de mangas 3/4. Todo o processo demoraria apenas 3 dias.

Incrivelmente, o japa topou. Hoje à tarde Fukushima retornou à loja para buscar a porra da camisa. Sempre reclamando, queria abrir a peça para ver se o serviço fora executado corretamente, porque aquela era uma roupa muito cara (59 real) e que nós não tínhamos vergonha na cara de cobrar tal fortuna por um pedacinho de pano, que ninguém faz ele de trouxa não e ele só pagaria se aquela fosse a camisa que ele escolheu, que não adiantava tentarmos enganá-lo repassando alguma peça de coleção antiga................mwaaaahhhhhhhhhh! Ódio.

Constatando que tudo estava certo, o japonês solta a pérola:

"Agora vá lá e me traga meus punhos", para o vendedor.

"Punhos? Que punhos?"

"Não se faça de bobo. Os punhos que foram cortados. Eles são meus, quero levá-los."

"Mas os punhos foram jogados no lixo. Nós reformamos a camisa, não há como reutilizar punhos, logo, os jogamos fora."

"Vá logo! Tenho pressa! Traga meus punhos já!"

"Mas......mas......"

Foi quando eu me meti:

"SENHOR, NÃO CONSERVAMOS LIXO EM NOSSO ESTOQUE. OS PUNHOS FORAM PARA O LIXO, ENTENDEU? Inclusive, quem os colocou no lixo fui eu. Vi dois punhos cortados e pensei: oba, punhos! Vou colocá-los no lixo!"

E ele, respondendo para mim:

"Vá buscar! Vá logo, tenho pressa! Agora!"

E desapareceu, largando a camisa lá. Quero contratar o Fabinho para me ensinar sua arte em 5 lições.

2 comentários:

Red disse...

Não tem segredo. É só enfiar a mão na fuça.

Bizarro disse...

Uma maneira de passar a mensagem teria sido botar fogo na camisa dele. Seria um bom investimento: apenas 59 Reais.