Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

São Co-Piloto da Gol

Hoje entrei na sala de embarque à qual fui designada no Galeão e logo concluí que o nipe dos seres que embarcariam comigo indicava que a aeronave fazia parte do programa brasileiro de seleção natural. Deixaria ali o meu adeus.

O primeiro grupo que avistei era composto por seres eletrocutados "Neymar Jr. style" que batucavam, cantavam e berravam e jogavam seus iPhones uns nos outros, aquela maravilha que vocês podem imaginar. Não perguntem minha opinião sobre inclusão social. Tenho para mim que ocorreu um erro na hora do check in, já que todos eles deveriam ter sido despachados em caixas específicas para transporte, mas o que vale minha opinião, né? NADA. Quem sou eu, além de uma migalha no universo? Moicanos brasileiros, bah.

À minha frente havia um senhor, uma senhora, ou o que quer que fosse aquilo, um exemplar clássico do "pegou fogo e apagaram com o martelo". Vamos imaginar que era um senhor, já que levantou sobrancelha, lambeu a boca e piscou pra mim. Com um cabelo igual a uma peruca de Eduardo Dusek em 1985, pensem. Em uma palavra, desgosto; em duas, desgosto profundo.

Logo ao lado, a pessoa que se debruçava sobre meu ombro para tentar ler o que estava na tela do BlackBerry trajava uma camisa do Tabajara F.C. Seguindo a tendência dos gramados ele também ostentava um modelo capilar exótico, mas com uma inspiração mais Biro-Biro oitentista, digamos assim. Para ser bem clara, o cabelo do palhaço era um arbusto em coque alto. Vá tomar no cu. Diante do que eu gasto mensalmente no Proença uma cena como essa é uma ofensa pessoal. Tomara que esse cara decida acender um cigarro no fogão e esse xaxim pegue fogo. Daí alguém salvará sua vida apagando o incêndio com um martelo e ele ficará com a cara e o cabelo de peruca do Eduardo Dusek do senhor supra citado. O do "desgosto profundo". Oras.

Ali adiante um crazy vestindo calças e sapatos sociais, gravata e uma JAQUETA DE ONÇA. Me apoiei na possibilidade de ser aposta ou algo do gênero.

Pessoa disfarçada de entidade - inteira de branco, inspiração: Nizan - calçando galochas Burberry's, um cigarro atrás de cada orelha. Mochila felpuda do Barney. Sim, Barney, aquele dinossauro roxo. Essa daí só faltou ser sugada pela luminosidade de uma nave espacial, na boa.

Isso porque estamos falando apenas dos highlights, vocês entendem.

De repente o crew começa a se aproximar e tudo o que eu tenho a dizer é que todos eles estavam maquiados como a Nina Hagen e sua banda. Nunca vi algo semelhante, aquilo dá ataque epilético numa pessoa.


"Favor retornar o encosto de sua poltrona para a posição vertical"

A primeira coisa que me ocorreu foi: "legal, as aeromoças são cegas. E os comissários resolveram sacaneá-las. No próximo vôo estarão com bigodes e óculos pintados na cara."

Foi nesse momento que meu telefone tocou e era um aviso de São Paulo: se eu estivesse em vestimentas muito primaveris, passaria frio. A temperatura havia caido 200 graus na cidade. E eu lá, embarcando de camisetinha e sapatilha, só com a pashmina para o ar condicionado do avião.

MAS GENTE

Foi o que expliquei para meu interlocutor, o discurso inicial: o fato de estar frio em São Paulo não é preocupante. Preocupante é você estar entrando no vôo da seleção natural. Porque eu, se fosse Deus, não teria dúvidas. Aquele avião estava pronto para ser derrubado, Brasil. Não tinha motivos para não fazê-lo.

Era como uma Arca de Noé, só que ao contrário.

Tive certeza de que estava fodida mesmo quando o Kiekeylson acomodou-se na poltrona 8C ao lado da minha 8A e a 8B veio vazia entre nós.

A questão é que fomos salvos e eu creio piamente no co-piloto e sua pronúncia britânica cristalina. Alguém aqui já viu algum membro de tripulação brasileira conseguir pronunciar alguma palavra em inglês, mesmo que "cat" ou "dog"?

Pois bem: nosso co-piloto, ao dar as boas vindas na aterrisagem quase me causou um derrame emocional com seu british accent impecável. Me senti num avião pilotado pelo Michael Redgrave, queria comentar com alguém, mas como vocês sabem, só havia estranhos patológicos ao meu redor.

Não sei como funcionam as contas de milagres e salvações, mas tenho certeza absoluta que esse cara salvou almas hoje falando inglês corretamente em um avião brasileiro.

Se algum espertalhão tiver uma explicação melhor, por favor, manifeste-se.

8 comentários:

Ligia Agueda disse...

kkkkkkkk.... ainda bem q vc chegou... Eu tbb sofri as consequências da queda de temperatura... embarquei de shorts e rasteirasss, pois meus pés tavam detonados do sapato do casorio!!! Resultado...to aqui 38 de febre!!! Mas valeuuuu... bjksss!

Paulinas disse...

Lili, socorro! Valeu muito!!

Cheshire cat disse...

"Programa brasileiro de seleção natural."
Passei mal de rir. Muito.

Paulinas disse...

Xará do meu coração, vc não pode imaginar o ZOO em que o gate 01 do Galeão foi transformado. Que meda, amiga.

Anônimo disse...

Paula, vim parar aqui por acaso mas você já arranjou um fã e leitor regular. Quase morri de rir, parabéns

("Kiekeylson" foi foda...)

Anônimo disse...

Paula, vim parar aqui por acaso mas você já conseguiu mais um fã e leitor regular. Quase morri de rir!

("Kiekeylson" foi foda...)

Paulinas disse...

para vc ver como minha vida é estranha, querido.....divirta-se, muita merda ainda acontecerá com esta pobre filha de papai noel. beijos!

Red disse...

Sim, não tenho palavras para descrever a felicidade que sinto pelo fato de o avião não ter sido derrubado e vc estar viva e serelepe. Porém, considerando os demais passageiros, não tenho palavras para descrever o desgosto que sinto pelo fato de o avião não ter sido derrubado.