Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Definindo "Alegria de Viver"

Não sei se é de conhecimento geral, mas minha família como um todo trabalha no ramo de confecções. De um jeito ou de outro estamos todos ligados ao conglomerado da Scarcelli´s Corporations, holding que engloba as empresas de papai, e faz parte de nosso cotidiano lidar com costureiras entre tantas outras peculiaridades da indústria de vestuário.

Gabi, minha irmã, produz peças femininas exclusivíssimas, de modelagens elaboradas e tecidos sentimentais, digamos assim. Por isso ela conta com uma equipe de costureiras especializada para a execução de tais modelos. Costureiras que sabem a maneira correta de aplicar um molde sobre um tecido caríssimo, costureiras que sabem como cortar a porra do pano sem cagar o fardo inteiro causando prejuízos incalculáveis, costureiras que possuem e dominam o maquinário próprio para cada fechamento, para cada acabamento, para cada forro.

E daí eu conto pra vocês que, fora dois bois saírem voando pela janela da sua casa diariamente à 4 da tarde, a coisa mais difícil no mundo como o conhecemos é encontrar o quê? Uma costureira CAPAZ. Um ser humano que reúna todas as características supra citadas, porque vou te dizer que de costureira boa, a Puta que o Pariu tá cheia. E quaisquer outros lugares suspeitos. Tudo cheio de costureira boa. A Casa do Caralho também tá cheia. Uma beleza. É costureira boa pra todo lado ali no Beco dos Ebó Mal Despachados, dá até gosto. Na rua, pra gente contratar é que não tem UMA viu.

Voltando.

Daí que Gabi, em sua busca eterna por seres humanos que saibam exercer a função para a qual se dispuseram nesta vida, encontrou uma certa Neide, ou Nalva, ou Nilde, sei lá, uma mulher de uns 45 anos de idade mais ou menos. Atenção pois esta informação sobre sua idade é importante. A mulher era uma gênia. A mulher não precisava de orientações, a mulher sabia tudo. Gabi largava moldes e tecidos na mão dela e a mulher transformava todo aquele bololô em roupas belíssimas. Que sorte a da Gabi, né?

NÃO, não é.

Neide (ou Nalva ou Nilde) tinha um comportamento bastante peculiar, totalmente baseado em atitudes depressivas. Nada daquilo com que vocês já tiveram contato anteriormente, eu garanto. Certa vez meu irmão levou Gabi à casa da sujeita para entregar uns botões. Gabi entrou e ela iniciou o lamento. Conseguiu se libertar (porque Nalva/Neide/Nilde é daquela raça de deprimidos que TE PEGA PELO BRAÇO) após um tempo não determinado, mas longo o suficiente para encontrar nosso irmão dormindo no carro. No meio de uma avenida enquanto aguardava seu retorno.

A conversa padrão com Neide/Nalva/Nilde era esta:

"Oi Neide, tudo bem?"

"Olha, bem não tá não"

"Ah, sim, que bom. Bem, Neide, aqueles vestidos que te entreguei na semana passada estão prontos?"

"Olha, eram para estar, eram sim. Mas é que faz uma semana que eu só choro, sabe?"

"Hum..."

"Porque eu sento para trabalhar, mas não consigo me concentrar nas peças, pois só penso em chorar"

"Sei..."

"E quando eu começo, olha, eu choro o dia inteiro, viu"

"Que coisa..."

"Porque nada, nada mesmo acaba com essa minha vontade de chorar"

"Entendo..."

" E daí, quando minha filha me liga, as coisas pioram bastante"

"Não me diga..."

"Porque eu CHORO DE UM LADO E ELA CHORA DE OUTRO, NEM CONSEGUIMOS CONVERSAR"

".............."

"Passamos HORAS na linha chorando juntas"

"Ahn...mas....."

"E você não me entende, porque ainda é muito jovem"

"Mas eu..."

"Sim, sim, gente velha não tem nada mais a fazer da própria vida senão chorar"

"Hum..."

"É só o que me resta. Só. Para mim e para minha filha. Somos muito tristes"

"Sei..."

"Você ainda está nos "inta". Espera chegar nos "enta" como eu que você vai ver como é" [esta frase virou um clássico aqui na família. Usamos para TUDO atualmente]

"Olha, eu..."

"Você também vai chorar o dia inteiro, pode esperar. Eu ainda vou te ver passando o dia todo debruçada numa mesa chorando. É o nosso destino, este. SOFRER!"

Sim, sim, Gabi deu um sumiço em Nalva/Neide/Nilde. Ela desenvolveu em nós o medo profundo de atendermos telefonemas e passarmos HORAS chorando na linha com nosso interlocutor.

Só tem louco na rua, preciso de uma oca na taba em Caraíva.

**EDITANDO em 22/09/10 - O nome da nega é LAÍDE. Lembramos. Tamo ruim, mas ainda há célebro aqui.

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