Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Coisas de Astolfo

Meu irmão é muito engraçado. Mas muito engraçado mesmo. A gente se mata de rir com ele. Rodolfo é daqueles caras que tem trejeito engraçados, de manias engraçadas, que nunca faz uma piada pra ser engraçadão. Nunca. O jeito que ele ri de qualquer coisa, o modo como ele fala com alguém, um gesto que ele faça em qualquer situação banal é o que nos faz rir até morrer.

Quem não o conhece talvez não consiga visualizar a cena. Mas quem já o viu em ação vai OUVIR ele falando aqui:

Domingo passado fomos num japa pois foi aniversário do nosso cunhado e como bom menino gordinho que é, Lulis resolveu comemorar a data empanturrando-se de peixe cru e similares. (aqui temos um pouquinho de Lulis, apenas uma breve amostra)

Daí que estava aquela zona pois somos uma família de pessoas grandes e ruidosas. Nossa mesa normalmente já é uma putaria. Some-se a isso a presença de SamSam e Dani, agregadas que também se comunicam usando três tons acima, e do filho de 2 anos do Rodolfo, o Francisco.

Quer dizer: 7 adultos estabanados e uma criança de 2 anos de idade numa mesa com hashis, shoyu, molho de tempurá, de soba, tarê, chapas de robata, ou seja, tudo o que dá merda. Estava uma zona. Sabe aquela mesa sobre a qual normalmente comentamos em restaurantes? Aquela mesa sobre a qual falamos: "Isso é lugar de trazer criança, gente?" Pois é. Éramos nós. Aliás, desde que começamos a circular com meu sobrinho por aí estamos pagando a porra da língua, porque vou te contar que se tem um treco que gera vexame é criança em restaurante. Pusstasmerdas, me lembro de todos que xinguei até hoje. Foi mal aê hein galerow.

Iniciou-se um debate sobre o que mais pediríamos, já que havíamos atacado a primeira leva de comida de forma que o pobre do sushi não teve nem chance. Utilizamos o estilo viking, foi. Meio viking meio visigodo, para ser sincera. Um horror que, graças a Deus, mamãe não presenciou. Ela comentaria pelos próximos 25 anos, mas enfim. 

"Vamos pedir mais um combinado desse aqui para 75 pessoas, vamos pedir mais um tempurá, vamos pedir mais dois grelhados"

Rodolfo interfere na deliberação:

"Vamos pedir mais hot rolls e mais enguia [UNAAAGIII] pois este tarê está especialmente bom e estou numa fase super tarê. To na onda do tarê"

Todos concordam. Chamamos o garçom e fazemos os pedidos. Ao final, Rodolfo emenda:

"Mas você poderia trazer, além da porção de tarê que vem em cada prato, uma porção extra para mim? Só para mim?" [o cara concordando, fazendo que sim com a cabeça, mas sem conseguir falar porque quando eu digo que o Rodolfo EMENDA, estou falando de alguém que não dá chances ao interlocutor]

"Para mim, só para mim, sem eu ter que dividir com NINGUÉM. Porque isso é MUITO importante para mim. Muito. Eu gosto muito de molho tarê. Muito. MUITO. MUITO. Eu PRECISO de tarê aqui no meu prato, é uma coisa doente. Trazendo este tarê extra você me ajuda MUITO. Isso é muito importante para mim. MUITO. MUITO. Muito importante. MUITO."

E o nego lá, sem saber se ficava mais chocado com a gritaria, com a quantidade de comida, com a criança quebrando tudo ou com o psicopata que fazia o pedido.

Sério, não andem com a gente. Não vale a pena.

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