Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Enquadro na Linha Vermelha

Então, né, que teve o feriado de 12 de outubro e eu que estava na maior abstinência carioca mas achei absurdamente cretino pagar 1200 reais em uma perna de ponte aérea, resolvi que a maneira mais indicada de locomoção até meu point Vieira Soutense era pegar um boi com o amigo Tano, cuja inominável inteligência fez com que chegasse à mesma conclusão sobre a compra da tal passagem de avião.

Sendo assim, ficou decidido que iríamos together, de carro, cantando e falando mal do mundo todo daqui pro Rio. E assim fomos.

Ao nos aproximarmos do final da Via Dutra, amigo Tano comenta:

"Não vamos entrar pela Linha Vermelha. Vamos dar uma volta maior e pegar a Av. Brasil, pois a polícia normalmente para TODOS os carros com placa de São Paulo em ocasiões como esta."

Ao que eu concordei e emendei:

"Sim, eles dão a maior canseira na gente, vamos pela Brasil, isso mesmo, Tano, tesouro, esperteza em pessoa, orgulho da família"

E emendamos uma conversa detalhando todas as blitzes onde nós, nossa família, nossos conhecidos ou os primos dos cunhados das irmãs das vizinhas já haviam rodado.

Claro que nem vimos o arrastão que acontecia na Brasil no exato momento em que adentramos a via então, tecnicamente, chegamos à Ipanema na maior tranquilidade.

CORTA.

FIM DE FERIADO - VOLTA PARA SP - PAULA E TANO NO CARRO.

Bifurcação ali logo depois de São Cristóvão indicando "Linha Vermelha" à frente, "Av. Brasil" à direita. Houve um lapso, ficamos no vai não vai, mentes sequeladas e não deu outra: entramos na porra da Linha Vermelha. E novamente não deu outra: fomos parados. Tá, né. A gente SABIA que isso ia acontecer, sem traumas.

Daí que vieram dois cidadãos pertencentes à organização, fantasiados de BOPE e tudo mais, que se puseram a revistar o carro as bolsas, as malas, arrancaram os tapetes, farejaram tudo como se fossem dois labradores amestrados atrás de uma peça de mortadela, pegaram um controle remoto de garagem na mão e perguntaram se aquilo tinha alguma outra função além de abrir e fechar portões, fizeram uma puta zona. E a gente ali, já parados havia uma hora.

Encrencaram com os documentos, que estavam em ordem. Encrencaram com os selinhos do para brisa dianteiro, que estavam em ordem. Encrencaram com o estepe, o triângulo e aquelas porras de trocar pneu, que também estavam em ordem. Encrencaram com a minha cara, que não estava muito em ordem não após 4 dias de esbórnia, mas policial normalmente não gosta muito de mim, então não tomei aquilo como ofensa pessoal ou algo do gênero. Vivo bem com o fato de ser uma pessoa suspeita.

Quer dizer: o cara não tinha de onde arrancar uma grana ou arranjar um problema para mim e Tano. A criatura acabara de perder uma hora e meia de seu dia em uma revista que não dera em nada. Puta roubada, grande perda de tempo.

Foi quando, não se dando por vencido, o digníssimo oficial fica na posição de cócoras, pega algo do chão e dirige-se à mim. Reproduzirei o diálogo:

- "A senhora sabe que, quando a senhora saltou do veículo, eu logo notei que ISTO aqui estava no chão."

- "Sei..." [o ISTO em questão era um treco qualquer que eu ainda não havia identificado pois o policial muqueava o objeto na mão]

- "Eu também notei que ISTO aqui pode ter caído no momento em que a senhora se levantou do banco do passageiro."

- "Arrãn...."

Eis que a BEXTA abre a mão e me mostra o 'ISTO'.

- "A senhora pode me dizer o que é ISTO?"


- "Huuummmm....aaahnnnn....é uma bituca de cigarro, moço..."


- "E ISTO é seu??????"


- "Não é não, viu seu guarda. Isso aí é bituca de Capri, tá vendo aí que tá escrito? Ó, eu fumo Marlboro....e Capri, viu moço, é cigarro de véia..."


- "Okay, vou liberar vocês para seguir viagem"

Como se ele não tivesse acabado de pagar o mico do século em meio à blitz mais populosa de sua breve carreira.

Desnecessário comentar que eu e Tano viemos VOMITANDO de rir de lá até a porta de casa e que esse otário virou assunto recorrente sempre que nos juntamos ao nosso numeroso grupo.

Porque PALHAÇO também é uma profissão. Seu trabalho é agir como imbecil para assim, divertir o público e causar o riso na galera, não é mesmo? Puta cara eficiente.

**EDITANDO EM 27/12/10: Cara, a bituca não era de Capri coisa nenhuma. Era uma bituquinha azul que vi ontem na área de fumantes da festa que eu fui. Mas isso não muda nada, porque não lembro o nome. Bêbado é uma merda mesmo.

2 comentários:

Cheshire cat disse...

Eu já fui enquadrada na linha vermelha, tipo três horas da manhã. Os gênios tiraram até palmilha de tênis mas não abriram uma bolsa térmica com três latinhas de cerveja (o motorista não tinha tomado nenhuma, mas quer motivo melhor pra tacar um bafômetro na gente?).

Paulinas disse...

Se contar NINGUÉM acredita. Nonosso caso eles checaram visualmente, digamos assim, os documentos. Em nenhum momento a habilitação do motorista foi levada até a viatura base para confirmar se não estava apreendida, como está a minha, por exemplo. Se fosse eu dirigindo, seguiria viagem na maior boa, mesmo estando com a carta apreendida por ter sido pega no bafômetro. Sim, fui pega no bafômetro.