Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Aconteceu comigo

Vamos supor que um dia você acorde e constate que está com tempo livre. Ou que se sinta largado às traças numa noite qualquer. Ou ainda que se veja sem destino nem expectativas reais para o dia de amanhã. Aqueles momentos em que pinta um vazio e você fica, assim, sem um futuro nítido pela frente. Sabe?

Tome um calmante, abra uma cerveja, pratique alpinismo. Bata um bolo, leia a Bíblia, estude mandarim. Corte cana, auxilie alguém que esteja com o caminhão emperrado na ladeira, arranje uma lata de tinta branca e pinte seu corpo inteiro no estilo "Timbalada". Isso, EMPURRE o caminhão ladeira acima.

QUALQUER COISA.

Só não invente de caçar algum armário adormecido na sua casa para arrumar. Arrumar armário, não.

Contar pra vocês que na última vez que tomei esta decisão de corno - porque só cornos patológicos em estado terminal tomam decisões dessa espécie - transformei minha casa em um cenário de Hoarders - A série.

Olhei para o armário e pensei: "Hmmmmm, bagunçadinho, hein? To de bobeira, vou dar uma ordem nessa merda aqui." A partir daí fui engolida por pilhas e pilhas de COISAS que começaram a se multiplicar e tomar todo o ambiente que me rodeava.

Quando tudo já estava devidamente jogado no chão, concluí que aquela quantidade de itens não caberia JAMAIS dentro daquele espaço novamente. Jamais. E daí  pus-me a perguntar: em qual momento da vida foi que eu virei as costas para a tão aclamada teoria do caos? Siga esta corrente e tenha uma vida próspera e feliz. Ponto. Mané arrumar armário terça de madrugada, gente...o que uma pessoa ganha com isso, exceto um trauma? Nada.

Tomada pelo pânico, constatei que aquele amontoado de coisas seria capaz de coisas impensáveis. Já conseguia enxergar a mim mesma de cabelo CRESPO tamanho o esforço necessário para organizar novamente o bololô. Pensei que, se decidisse por arrumar de fato aquilo tudo, voltaria a dormir apenas em 2013, segundo um cálculo que fiz usando como base a regra de três. Ficou bem próximo do resultado real, acreditem.

Foi quando decidi socar para dentro das seis portas tudo o que nunca deveria ter saído de lá. Vai que numa dessas eu abro um portal pra sétima dimensão e termino dentro de uma árvore, toda melecada de geleca? Tá doido? Juro que esperava encontrar a Carol Anne ali atrás das malhas de lã, mas esse não me pega. Conheço muito bem o caminho entre a televisão e a árvore, meu filho. E ele passa pelo armário que eu sei.

Conclusão: estava bagunçado. Agora fodeu de vez. Simples assim.

Colarei post its nas portas aqui de casa com os dizeres "nem pense em tentar arrumar, desgraçada". E seguirei meu destino na trilha do sucesso.

SERIO.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Mais um conto Caraivano. Ou: "JOGUE ÁGUA NELA"

Essa história não é minha. Essa história é da minha irmã Gabi, que lá na antiguidade teve o bom gosto de decidir passar anos de sua vida enfiada em Caraíva, com a bunda cravada na beira daquele rio, colhendo material para a gente colocar nessa trolha aqui.

A coisa foi mais ou menos assim:

Gabi residia em uma bela casinha amarela e tinha como vizinha a amiga Ducarmo. Elas eram muito felizes naquela vida sem muros, onde se você decidisse colocar fogo em seu quintal para espantar formigas, por exemplo, a chance de matar seu vizinho tostado em estilo pururuca era imensa; aquela vida sem fronteiras, onde mesmo sem querer, você obrigatoriamente tomava conhecimento sobre o que se passava no lar adjacente; aquela vida linda, onde você de repente começava a ouvir a cantoria da querida Edith no meio do dia......e tudo permanece assim, até hoje, essa imensa bola de amor.

~~~~voltando pro corpo após breve devaneio~~~~

Um belo dia, Ducarmo alugou sua casa e pessoas que Gabi jamais havia visto na vida chegaram em Caraíva. E se instalaram ao lado de sua casinha amarela. LEGAL.

Daí que Gabi tá lá, naquela correria de Caraíva, alternando atividades como olhar para o teto e coçar o dedão do pé, quando começa a ouvir gritos de horror:

"AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!" - [mulher. grito agudo de pavor]

Gabi dá um salto. Pensa por um segundo e conclui que estão ASSASSINANDO alguém ali em frente. Outro grito, ainda mais assustador que o primeiro:

"AAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!"

Ela pára de coçar o dedão e assume posição de alerta. Decide prestar atenção, no sentido de estabelecer a localização exata da provável vítima de escalpelamento. A partir daí ela ouviu esta sequência de gritos entre a criatura histérica e um outro ser humano que a instruía na tentativa de acalmá-la:

"PARE DE GRITAR!" - [voz de homem, forte sotaque baiano. gritando, porém falando lentamente]

"AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH!!!"

"PARE DE GRITAR!"

"AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!"

"JOGUE ÁGUA NELA!"

"AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!"

"JOGUE UMA TOALHA NELA!"

"AAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!"

"PARE DE GRITAR!'

Os gritos pioravam. O descontrole da mulher aumentava.

"JOGUE ÁGUA NELA!"

Mais gritos. Ainda mais altos. Gabi pensando em invadir. Ela acabara de constatar que os berros vinham mesmo da casa de Ducarmo.

"PRESTE ATENÇÃO! PARE DE GRITAR! JOGUE ÁGUA NELA!"

Gritos horríveis, incessantes

"JOGUE UMA TOALHA NELA!"

E essa conversa estendeu-se por muito tempo. Gabriela curiosíssima, maquinando sobre o que poderia ter causado tamanho furdunço sob o céu de estrelas.

Quando os nego decidiram parar de gritar, ela foi averiguar o caso. Mesmo porque seria necessário certificar-se de que o Jason ou algo do tipo não havia de fato passado por ali. Questão de garantia de vida e tal.

O ocorrido:

A pessoa aportou pela primeira vez em uma cidade onde não há calçamento, nem energia elétrica, nem uma cidade em si, para ser exata. Um lugar onde a fauna é dominante. Um perímetro que nos mostra didaticamente o conceito de "A Natureza é Hostil ao Homem".

Porque eu mesma já cheguei em Caraíva pela primeira vez muitos e muitos anos atrás, e garanto que muita gente pensa em ir embora, ou comprar Baygon e um facão, sei lá. Não foi meu caso, mas isso não vem ao caso [ui].

Bem. A tal figura instalou-se em seus domínios baianos e decidiu tomar um simples banho. Entrou no banho. Junto com ela entrou uma aranha de 20 centímetros de circunferência e 10 centímetros de altura. Sim, este bicho existe e já me atacou lá mesmo. Foi isso. Essa gente não tem pedigree para viver uma temporada que seja em Caraíva, te contar viu.

A partir de então, sempre que nos deparamos com alguma crise, independente de sua natureza, o comentário inicial é:

"JOGUE ÁGUA NELA" - com sotaque.

**Este post é dedicado à Red. Foi por causa de alguma besteira protagonizada por ela que nos lembramos desta história que havia tanto tempo, habitava a parte mais empoeirada de nossos cérebros senis.

Sobre o Casamento Real

Sem desmerecer a importância do evento, já que é o que vai nos livrar de ter Camilla como rainha consorte, mas...

Alguém aí tá aguentando a onipresença de William, Kate, Charles e da falecida? Porque eu não posso mais ligar minha televisão sem dar de cara com um desses caboclo. Animal Channel: tá lá o Charles. ESPN: William. Qualquer canal: a morta. Abra a porta da minha geladeira e quem tá lá dentro, sorrindo? A menina Middleton.

Tem como ir pra Lua e voltar em julho não, né? Mesmo porque, eu não sei vocês, mas EU não vou assistir cerimônia nenhuma. Já vi a da Diana e não pretendo usar o horário em que normalmente inicio meu período de sono e repouso corporal para ver casamento de terceiros. Pela TV. Não, fora de questão.

Isso tudo sem considerar o fato de que eu não mereço ter a cara de Charles aparecendo em flashes sequenciais na minha vida. Isso dá ataque epilético e convulsões. Nego precisa de uma bela catarata para observá-lo diariamente sem sequelas. O mesmo vale para aquele vestido de noiva medonho de lady Di.

Sou sensível.

Passa casamento, passa. Como disse o @bomdiaporque, e o Divórcio Real, quando vai ser?

Pânico e tumulto no meu cérebro

Bom, gente. hoje a Camila Morgado apareceu no Saia Justa usando isso aqui:


Daí todo meu sistema nervoso e motor entrou em colapso porque:

1- Eu preciso dessa tiara

2- Eu não sei onde comprar, NÃO SEI DE ONDE ELA VEIO.

É isso. Se alguém tiver esta, que atualmente é uma informação vital para mim, fineza entrar em contato. Conto com vocês, seres maiorais, infinitamente mais orientados do que eu, que conhecem a procedência da paradinha aí do cabelo.

"CRIANÇA DOENTE - Recompensa-se bem"


Só pra constar

Que meu carro ficou 2 meses arrumando depois que uma palhaça destruiu minha traseira na Henrique Schaumann PARADA e a oficina me entregou o tal veículo sem água, óleo, combustível. A única coisa que veio COM, foi com um pneu rasgado.

Esclarecendo: apenas espero que meu carro contenha combustível e fluidos ao sair da funilaria pois, se não me falha o raciocínio lógico, ao retirá-lo de lá preciso sair ANDANDO nele. Faz sentido? Pergunto porque o mundo anda me confundindo, assim, no todo.

Longe de mim abusar daqueles que me prestaram serviço em tempo recorde. Em atraso, que fique claro. Dez dias transformaram-se em dois meses, mas o que vale é quebrar recordes, diz aí.

O carro não tinha uma gota de gasolina, como fui informada pelo ilustre ser humano que me atendeu na ocasião. Informação esta, endossada pelo computador de bordo da bagaça, que marcava: "autonomia - 0", piscando amarelo na minha cara. Diante disso, dirigi até uma ladeira e desci em ponto morto até o posto do fim da rua. Abasteci o tanque e fui. Blasfemando.

Duas esquinas depois a porra do carro FERVE. Deus, com pena (ou medo) de mim, plantou um outro posto de gasolina ali bem ao meu lado. Após aguentar a cara de desprezo do frentista, que certamente me julgou uma imbecil sem precedentes por andar num carro sem água e - SURPRESA - sem óleo, segui meu caminho. Continuei blasfemando, porque GENTE. Pensa.

Uns 100 metros depois, me pára um Monza hatchback, ou algo do gênero, ao meu lado e noto o cara sentado no banco do co-piloto aos berros. A coisa era comigo. Ele gritava loucamente:

"Tia!!!!! Ô tiiiiaaaaaaaaaa!!!!! Seu pneu tá furadoooo! TIIIAAAAAAAA!!!!!"

TIA. SEU. PNEU. TÁ. FURADO.

Retornei para o posto de onde acabara de sair. O segundo posto. Não havia borracheiro naquela birosca lazarenta. Pedi para encher o pneu. O frentista passou a me desprezar de maneira infinita, eu sei.

VOLTEI para a avenida. O pneu estava rasgado e esvaziou em 10 minutos. Achei uma borracharia. A esta altura eu já estava em pleno Sacomã, olha que beleza, né. Tudo o que a gente pede aos céus para um final de tarde mágico.

Parei no estabelecimento mais suspeito do Estado de São Paulo e pedi para o responsável (?) dar um jeito naquilo. Segundo ele, fiz muito bem em parar. Se não o fizesse naquele momento "ia zuar minha roda, mano". Esses moleques não sabem que dirijo há 20 anos e que tudo aquilo tratava-se de um ebó mal despachado. Pelo menos foi esta a única explicação plausível para a sequência de fatos que acontecia ali.

O ESTEPE ESTAVA FURADO.

Mandei arrumar o pneu e ensinei o mino do Corsa tunado ao meu lado a mandar fotos pelo WhatsApp. Amizade sincera a gente constrói assim, na miséria. Na tragédia. Ele me adicionou no WhatsApp. Sim. Ficou ali ao lado aguardando a confirmação. Somos oficialmente amigos desde aquela sexta-feira treze.

Não mandei arrumar o estepe pois àquela altura queria testar até onde iria o poder da zica. Mas, incrivelmente, nada mais me aconteceu. Talvez a bigorna que caiu no meio da Marginal Pinheiros fosse para mim, mas ó: me safei.

Amanhã vou mandar arrumar este estepe. Porque parece que meu anjo da guarda foi pra Londres ver o casamento de Lady Kate e eu não estou pretendendo interagir com empresários do ramo de manutenção automotiva.

Era isso.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Coisas de Astolfo

Meu irmão é muito engraçado. Mas muito engraçado mesmo. A gente se mata de rir com ele. Rodolfo é daqueles caras que tem trejeito engraçados, de manias engraçadas, que nunca faz uma piada pra ser engraçadão. Nunca. O jeito que ele ri de qualquer coisa, o modo como ele fala com alguém, um gesto que ele faça em qualquer situação banal é o que nos faz rir até morrer.

Quem não o conhece talvez não consiga visualizar a cena. Mas quem já o viu em ação vai OUVIR ele falando aqui:

Domingo passado fomos num japa pois foi aniversário do nosso cunhado e como bom menino gordinho que é, Lulis resolveu comemorar a data empanturrando-se de peixe cru e similares. (aqui temos um pouquinho de Lulis, apenas uma breve amostra)

Daí que estava aquela zona pois somos uma família de pessoas grandes e ruidosas. Nossa mesa normalmente já é uma putaria. Some-se a isso a presença de SamSam e Dani, agregadas que também se comunicam usando três tons acima, e do filho de 2 anos do Rodolfo, o Francisco.

Quer dizer: 7 adultos estabanados e uma criança de 2 anos de idade numa mesa com hashis, shoyu, molho de tempurá, de soba, tarê, chapas de robata, ou seja, tudo o que dá merda. Estava uma zona. Sabe aquela mesa sobre a qual normalmente comentamos em restaurantes? Aquela mesa sobre a qual falamos: "Isso é lugar de trazer criança, gente?" Pois é. Éramos nós. Aliás, desde que começamos a circular com meu sobrinho por aí estamos pagando a porra da língua, porque vou te contar que se tem um treco que gera vexame é criança em restaurante. Pusstasmerdas, me lembro de todos que xinguei até hoje. Foi mal aê hein galerow.

Iniciou-se um debate sobre o que mais pediríamos, já que havíamos atacado a primeira leva de comida de forma que o pobre do sushi não teve nem chance. Utilizamos o estilo viking, foi. Meio viking meio visigodo, para ser sincera. Um horror que, graças a Deus, mamãe não presenciou. Ela comentaria pelos próximos 25 anos, mas enfim. 

"Vamos pedir mais um combinado desse aqui para 75 pessoas, vamos pedir mais um tempurá, vamos pedir mais dois grelhados"

Rodolfo interfere na deliberação:

"Vamos pedir mais hot rolls e mais enguia [UNAAAGIII] pois este tarê está especialmente bom e estou numa fase super tarê. To na onda do tarê"

Todos concordam. Chamamos o garçom e fazemos os pedidos. Ao final, Rodolfo emenda:

"Mas você poderia trazer, além da porção de tarê que vem em cada prato, uma porção extra para mim? Só para mim?" [o cara concordando, fazendo que sim com a cabeça, mas sem conseguir falar porque quando eu digo que o Rodolfo EMENDA, estou falando de alguém que não dá chances ao interlocutor]

"Para mim, só para mim, sem eu ter que dividir com NINGUÉM. Porque isso é MUITO importante para mim. Muito. Eu gosto muito de molho tarê. Muito. MUITO. MUITO. Eu PRECISO de tarê aqui no meu prato, é uma coisa doente. Trazendo este tarê extra você me ajuda MUITO. Isso é muito importante para mim. MUITO. MUITO. Muito importante. MUITO."

E o nego lá, sem saber se ficava mais chocado com a gritaria, com a quantidade de comida, com a criança quebrando tudo ou com o psicopata que fazia o pedido.

Sério, não andem com a gente. Não vale a pena.